“Criados, salvos e santificados pelo amor, no amor e para o amor” | Solenidade da Santíssima Trindade – Ano B | Reflexão de Pe. Paulo Sérgio Silva

Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”
(Mt. 28,19)

Após celebrarmos o tempo pascal, recordando a paixão, morte e ressurreição do Senhor, que ofereceu-se na cruz ao Pai e depois de concluirmos este tempo santo com a celebração do dom do Espírito em Pentecostes, neste Domingo, a Igreja nos convida a proclamar jubilosos a glória da Santíssima Trindade, o Deus uno e trino que nos salvou por amor! A Solenidade, longe de ser uma convocação acadêmica para decifrar o mistério de “um Deus em três pessoas”, é um convite a contemplar o Deus que é amor, família, comunidade e que criou a humanidade para viver na comunhão do seu mistério de amor.

Na primeira leitura (Dt.4,32-34.39-40), Jahwéh revela-se como o Deus do encontro/relação, que permanece empenhado em criar comunhão e familiaridade com o seu Povo. É um Deus que fala e indica caminhos de liberdade e salvação, que não age com indiferença aos problemas humanos, mas sim intervém no mundo para nos libertar do mal e do pecado e nos oferecer vida plena e verdadeira. Todavia, para que isto se realize o povo deve reconhecer que “só o Senhor é Deus”. Sendo assim, o Povo não deve colocar a sua esperança em deuses imaginários com suas propostas enganadoras. Deve cumprir as leis e os mandamentos de Deus, pois são o caminho seguro para a felicidade.

A segunda leitura (Rm.8,14-17) confirma a mesma mensagem. Jesus Cristo nos revelou o Deus próximo e acessível, que age diante dos dramas humanos. Um Deus que acompanha com compaixão a nossa caminhada e jamais desiste de oferecer vida plena em abundância. A palavra “abba” (palavra usada pelas crianças ao se dirigir ao pai e que se traduz como “papá”) é expressão de intimidade filial, definindo nossa relação com Deus marcada pelo amor, pela docilidade, pela confiança, pela ternura. Cabe-nos como filhos e herdeiros, viver a altura desta dignidade imitando a mesma comunhão trinitária que Jesus revelou.

No Evangelho (Mt.28,16-20), compreendemos que para Jesus ser seu discípulo é tornar-se membro da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar o Reino dos Céus e são enviados a apresentar a todos – povos, línguas e nações, sem exceção – o convite de Deus para integrar a família/comunidade trinitária. É esta a fé na qual fomos batizados e pela qual fomos introduzidos na vida desse Deus uno e trino. O amor eterno vivido entre o Pai, o Filho e o Espírito, é o amor que devemos viver entre nós! A Trindade não é uma teoria acadêmica. Ela é uma realidade concreta que deve invadir e impregnar a nossa vida e a vida e missão da Igreja.

Chama a atenção o modo como Mateus, de forma sintética, apresenta os passos da Iniciação à Vida Cristã que nossas dioceses buscam apresentar a sociedade contemporânea: os discípulos devem começar a anunciar e ensinar tudo que aprenderam do próprio Jesus Cristo (vs.20); em seguida devem oferecer os sacramentos Àqueles que escutaram o anúncio (querigma) e decidiram acolher a proposta do Reino (vs. 19); os que optaram por viver o caminho do Evangelho, uma vez batizados, passam a integrar a comunidade trinitária, isto é, se tornam eles próprios anunciadores do Evangelho, para levar toda a humanidade a habitar no coração de Deus.

A comunhão e a sociabilidade da Trindade é um grande exemplo para nossa sociedade que vive tão imersa em “amizades virtuais”, mas se esconde e foge de toda e qualquer possibilidade de convívio e compromisso familiar e fraterno. Uma Família/Comunidade que não se reúne e não respeita a diversidade de dons, carismas e ministérios, não é uma comunidade que vive a comunhão da Trindade e que caminha para a Trindade.

A vida da Santíssima Trindade é dinâmica, pois vive em permanente movimento de amor; de dar amor e receber amor. Deste modo a vida dos cristãos não pode nem deve ser uma realidade estática, nem simples observação mecânica dos mandamentos. Deve ser também movimento de amor, para acolher e se doar aos outros. Professar a fé na Trindade é acreditar que a Cruz – caminho da nossa salvação – é feita de duas forças: do ato amar a Deus e amar ao próximo. A haste vertical na terra e apontando para o céu, é o amor e o serviço a Deus. A trave horizontal, é o amor e o serviço ao próximo. Em suma, não há como confessar e professar o amor a Deus sem confessar, professar e viver o amor ao próximo.

Que a comunhão eterna vivida pela Santíssima Trindade nos ensine o verdadeiro objetivo de nossa fé e missão: testemunhar que somos uma comunidade que nasceu do amor, vive de amor e caminha nesta terra para alcançar a plenitude do amor de Deus. Assim “a Graça do Senhor Jesus Cristo, o Amor de Deus Pai e a Comunhão do Espírito Santo estarão sempre conosco!”


Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato


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