O Paradoxo dos Extremismos: uma reflexão sobre Aborto e Dignidade Humana

Por Mauro Nascimento

Os extremismos políticos e ideológicos, apesar de aparentemente antagônicos, encontram-se em um ponto nuclear: a contradição inerente às suas posturas. Essa constatação é evidente ao analisar questões sensíveis como o aborto e as condições de vida de jovens e idosos.

Muitos extremistas de direita posicionam-se contra o aborto do nascituro, defendendo a vida desde a concepção. Esse argumento é frequentemente fundamentado em princípios religiosos e éticos que valorizam a sacralidade da vida. No entanto, a mesma energia não é aplicada na defesa de condições dignas de vida para os já nascidos. Jovens e idosos, muitas vezes, enfrentam situações de abandono, falta de acesso à educação de qualidade, saúde e segurança. A incoerência surge quando a defesa da vida se restringe ao período pré-natal, negligenciando o “aborto existencial” que ocorre diariamente na forma de pobreza, violência e falta de oportunidades.

Por outro lado, alguns extremistas de esquerda são a favor do direito ao aborto, argumentando em prol da autonomia da mulher e dos direitos reprodutivos. Esses mesmos grupos, no entanto, mostram uma preocupação acentuada com as condições de vida dos mais vulneráveis, lutando por políticas públicas que garantam educação, saúde e bem-estar para todos. A defesa da vida digna após o nascimento é um ponto central, mas surge a contradição ao apoiar o aborto, o que pode ser visto como uma forma de interrupção da vida potencial.

O catolicismo, em sua doutrina, defende a vida desde a concepção até a morte natural. Esse posicionamento integral, contudo, é frequentemente manipulado conforme a conveniência ideológica de cada grupo. Aqueles que se dizem católicos devem ser coerentes com essa defesa da vida em todas as suas etapas, o que inclui não apenas a oposição ao aborto, mas também a luta contra todas as formas de “aborto existencial”. Não podemos ser convenientes com o “catolicismo” que nos é mais oportuno, adotando apenas as partes que se alinham com nossas posições pré-estabelecidas.

A análise dos extremos revela a necessidade de uma postura ética e moral que transcenda as barreiras ideológicas. É fundamental reconhecer a complexidade dos problemas sociais e a interconexão entre o direito à vida e a qualidade de vida. Defender a vida desde a concepção deve implicar, necessariamente, um compromisso com a dignidade e o bem-estar de todas as pessoas, em todas as fases de suas vidas. A hipocrisia dos extremos deve ser superada por uma ética de cuidado integral e coerente, que reconheça o valor da vida em sua totalidade.

Assim, é imprescindível que tanto os defensores da direita quanto da esquerda reavaliem suas posições e busquem uma coerência que realmente promova a vida em todas as suas dimensões. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais justa e humana, onde a vida é respeitada e valorizada plenamente.


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